
A Polícia Civil do Rio Grande do Sul tem registrado aumento nos casos de estelionato conhecido como “golpe do amor”, modalidade em que criminosos se aproveitam da fragilidade emocional, especialmente de idosos, para obter vantagens financeiras. As ocorrências envolvem tanto relacionamentos virtuais, iniciados em redes sociais e aplicativos, quanto situações presenciais entre idosos e cuidadores.
Segundo a delegada Ana Caruso, titular da Delegacia de Proteção ao Idoso, os estelionatários exploram o sentimento de solidão e o desejo de afeto das vítimas. “A maneira de se proteger é desconfiar de relacionamentos que se baseiam em ajuda financeira. Não que o amor não possa existir na terceira idade. Entretanto, a cautela é sempre bem-vinda”, afirmou.
Soldado americano e artistas falsos
Um dos golpes mais comuns é o do “soldado americano”. Nele, os criminosos criam perfis falsos em que se apresentam como militares estrangeiros, usando fotos fardados. Após conquistar a confiança da vítima, passam a pedir depósitos para que o encontro presencial ocorra. A cada pedido, surgem novas desculpas para adiar a vinda ao Brasil — e o criminoso nunca aparece.
Outra prática envolve perfis falsos de artistas famosos. Os golpistas reproduzem fotos e conteúdos das redes sociais de celebridades, criando narrativas convincentes para enganar e extorquir vítimas em busca de atenção e romance.
Relações com cuidadores
Além dos golpes virtuais, há registros envolvendo cuidadores. Em casos de demência ou senilidade, idosos chegam a acreditar que seu cuidador é parceiro amoroso, sendo convencidos a pagar cursos inexistentes, entregar talões de cheque ou autorizar transferências bancárias. Em alguns casos, contratos de união estável são firmados, gerando conflitos familiares.
Quando o idoso está lúcido e não interditado, porém, a atuação policial fica limitada, mesmo que acabe dilapidando seu patrimônio. “É um estelionato amoroso. O criminoso consegue tirar tudo do idoso, e mesmo que ele caia em si posteriormente, o estrago já foi feito”, explicou a delegada.
Operação Dom Quixote
Um dos maiores esquemas investigados pela Polícia Civil foi a Operação Dom Quixote, deflagrada em 2024 com apoio das polícias de São Paulo e do Ceará. O caso envolveu uma quadrilha que enganou um idoso de 71 anos entre 2022 e 2023, causando prejuízo de aproximadamente R$ 2 milhões.
Os criminosos utilizavam perfis falsos de mulheres estrangeiras que simulavam interesse em relacionamento e prometiam enviar grandes quantias ao Brasil. Para dar credibilidade, outros perfis falsos se passavam por profissionais de empresas de guarda de valores, auditoras fiscais e até policiais.
Durante as investigações, foram identificados 13 suspeitos, seis deles presos. Cerca de R$ 80 mil em bens e valores foram bloqueados, incluindo celulares, notebooks, cartões bancários e documentos apreendidos. Segundo o delegado Anderson Pedro Riedel, da Delegacia de Tupanciretã, os valores poderão ser destinados à vítima em caso de condenação.
Como se proteger
A Polícia Civil orienta que vítimas desconfiem de contatos virtuais com desconhecidos, especialmente quando há pedidos de dinheiro. Caso o golpe ocorra, a recomendação é registrar ocorrência presencialmente ou pela Delegacia Online, reunindo o máximo de provas possíveis — como mensagens, e-mails, chaves Pix e comprovantes de pagamento — para facilitar a identificação dos criminosos e o bloqueio de bens.