Como se ouve uma emoção? – Évelin Caroline da Silveira

Oi, companheiro de conversa. Fique à vontade, puxe a poltrona, escolha sua bebida quente e se aconchegue. Como estás? Eu tenho sentido cansaço. Esses dias têm trazido dores e pesares para os quais não havíamos nos preparado, não é? Hoje, precisei lembrar a mim mesma que, para que eu possa respeitar o espaço em que as emoções do outro se manifestam, eu preciso respeitar e acolher também as
minhas emoções. Você já se pegou angustiado pela dor do outro? Querendo tomar a dor para si, ou agir de forma resolutiva que fosse capaz de, ao menos, afastá-la?

Hoje me notei assim, querendo poder resolver. Tu sabes que, acabei por dar-me conta que, o outro, a quem estou emprestando meu ouvidos, não procura em mim resoluções. E mesmo que procurasse, precisaria ser gentilmente conduzido a olhar para si, para identificar em que aspectos precisa de apoio, para encontrar possíveis soluções. Soluções essas provavelmente parciais, ou temporárias.

No momento em que vivemos, temos esquecido um pouco que as emoções não existem para serem solucionadas, resolvidas, encerradas. Nossas emoções são como sinais, elas nos contam sobre o que é importante para nós, sobre o que valorizamos. Mesmo as emoções difíceis, mesmo a dor. Tendemos a querer afastar a dor e a tristeza, sem que precisemos dar espaço para senti-las. Quando perdemos
algo, ou alguém que amamos, não é possível simplesmente seguir, como se isso não nos impactasse, como se não fossemos sentir essa falta, como se o mundo estivesse exatamente da mesma forma que antes. Não está. A vida não segue da mesma maneira. O que se faz presente é uma falta quase concreta, como se a falta fosse agora um personagem na nossa vida, quase inconveniente, nos lembrando da
vida que desejamos, da vida que construímos, e do espaço vazio que o que foi perdido deixou.

Ao cair do dia, acabei recordando das palavras de Rubem Alves: “Buscamos, no outro, não a sabedoria do conselho, mas o silêncio da escuta; não a solidez do músculo, mas o colo que acolhe.” Acabei por lembrar também que, o colo, o respeito da escuta, o amparo, nos permitem a vulnerabilidade necessária para
reconhecer, que tudo pelo que sentimos, é legítimo a seu modo. Reconhecer isso, é o que nos permite a coragem de, novamente, buscar caminhos para a reconstrução de nós mesmos, e da vida que ainda podemos desejar.


Évelin Caroline da Silveira
Psicóloga CRP 07/40693

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As opiniões contidas nesta coluna não refletem necessariamente a opinião do Jornal Do Povo.

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