Saber cozinhar é um ato de liberdade
Tem gente que ainda acha que cozinhar é só uma obrigação do dia a dia. Que é coisa de quem “tem tempo” ou de quem “gosta de se enfiar na cozinha”. Mas eu te pergunto com toda a sinceridade: existe algo mais libertador do que poder preparar a própria comida?
Saber cozinhar é não depender de aplicativo, de fast food, de marmita congelada ou de alguém que saiba fazer por nós. É abrir a geladeira, encontrar meia dúzia de ingredientes e transformar aquilo num prato que alimenta de verdade — o corpo e a alma. É resistir ao apelo da comida pronta e dizer: eu
posso fazer melhor. E, muitas vezes, fazer com mais sabor, mais saúde, menos custo e mais sentido.
Cozinhar é uma habilidade tão básica quanto escovar os dentes, e ainda assim é tratada como um talento especial. Mas não precisa ser chef, nem ter técnica de reality show, nem usar ingredientes caros. Basta curiosidade, um pouco de atenção e uma boa dose de prática. Cozinhar é um saber ancestral, coletivo,
intuitivo. Algo que foi sendo perdido entre a correria, os ultraprocessados e a ideia de que o tempo investido na cozinha é tempo perdido. E não é.
Muito pelo contrário: cozinhar é um jeito de recuperar o controle sobre o que se come. De entender de onde vem a comida, como ela se transforma, como afeta nosso corpo. É também um ato de carinho. Quando a gente cozinha para alguém, está dizendo “eu me importo contigo”. Quando cozinha para si, diz “eu me importo comigo”.
Aos poucos, quem cozinha começa a olhar para os alimentos de outro jeito. Aprende a respeitar a sazonalidade, a origem dos ingredientes, os sabores reais. E isso vai muito além do prato: muda nosso olhar pro mundo, pro consumo, para o tempo. Cozinhar também é político. É econômico. É
terapêutico. É um exercício de presença.
Então, se tu ainda não te aventura na cozinha, eu te convido: começa hoje. Não precisa fazer um banquete. Um arroz soltinho, uma omelete com temperinhos, um molho de tomate bem feito já são grandes vitórias. São pequenos gestos que, com o tempo, viram autonomia. E a autonomia, ah… essa sim é um tempero poderoso.
Nícolas Magalhães
Gastrônomo e Pós-Graduando em Gastronomia Cultural e Sociobiodiversidade na Gastronomia
