Olá, companheiro de conversa! Fique à vontade. Pode aproximar a poltrona, tirar o calçado apertado e pegar seu cafezinho. Deixe o corpo relaxar um pouco.
Tenho pensado que, perceber o tempo passar parece cada vez mais um desafio. A sociedade do cansaço, como identifica o filósofo Byung-Chul Han, às vezes não permite a pausa, nem ter tempo suficiente para perceber o tempo passando.
Estamos a todo tempo conectados, atentos, disponíveis, à distância de um sinal de wi-fi, estando constantemente presentes em todos os lugares, e ao mesmo tempo em nenhum.
Quando algo da realidade nos surpreende, nos tirando do lugar comum que estávamos acostumados a ocupar, somos levados para um momento de presença aguda. Seja a perda de uma relação importante, de um trabalho muito desejado, ou de algo que recebeu por muito tempo nosso investimento afetivo.
Nestes momentos não é mais possível se distribuir entre tantos lugares diferentes e estar com a
atenção tão dividida. A realidade pede passagem, pede olhar. Os ciclos se encerram, e nem sempre estamos prontos. Nem sempre temos tempo de dizer tudo o que gostaríamos, nem sempre pudemos experimentar tudo que o tempo propunha.
O instante precioso, de estar conectado com a realidade do momento presente, permite olhar para como temos vivido a vida. Para o sentido que encontramos no que fazemos dia após dia. Destaca a importância das relações que nem sempre temos tempo de nutrir, a importância do tempo a sós, de encontrar-se consigo mesmo. “A vida é o dever que nós trouxemos pra fazer em casa”, diz Quintana.
Quando os ciclos se encerram, podemos por um momento, contemplar a fugacidade da vida, e por alguns instantes perceber que: podemos estar perdendo a beleza do caminho, do processo, enquanto miramos num futuro. Fazendo empréstimo das palavras do poeta espanhol Antônio Machado, não há caminho prévio a ser seguido, nossos passos fazem o caminho, “o caminho se faz ao andar”.